“A partir de estudos sobre a espessura do córtex cerebral de praticantes e não praticantes de meditação, há evidências de que a prática meditativa pode modificar não apenas a função cerebral, mas também a sua estrutura.”

“Onde estou neste momento? Onde coloco a minha atenção? Estou no presente? Por que sento-me para fazer uma prática e fico com a mente dispersa, cheia de pensamentos? Não estou aqui para fazer afirmações, mas trazer reflexões.” Assim começou a palestra da Psicóloga/Psicanalista e Monja (Ken Zen) da Tradição Sotoshu de Zen Budismo Maria Bernadette Biaggi, durante o evento “O infinito é onde sou: O não nascido – diálogo entre meditação, psicanálise e neurociência”, no dia 7 de março, no Museu de Minas e Metal, em Belo Horizonte.

No evento, foram apresentadas teorias e práticas da análise clínica e pesquisas que confirmam a eficácia da meditação para o cérebro e saúde mental dos praticantes. Conforme estudo do Instituto do Cérebro, Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPAE), “a prática de meditação pode trazer mudanças não apenas psicológicas, como mostram boa parte dos estudos, mas também modificações na fisiologia e anatomia cerebrais. Nosso estudo preliminar no InCe-HIAE indica que pessoas que praticam meditação regularmente podem apresentar um cérebro mais eficiente no desempenho de uma tarefa de atenção”.

“A prática da meditação e a psicanálise têm a realidade como substância e se ocupam da descompressão do excesso de sensorialidade da mente, dando lugar à sensibilidade intuitiva, ao gesto espontâneo, à autenticidade”, comenta a psicanalista Bernadette Biaggi, que também é monja da tradição Sotoshu de Zen-Budismo e fundadora do Instituto Biaggi – Psicoterapia/ Psicoanalisi/ Cultura e Arte Brasil-Itália.

Ela explica que “a mente fica abarrotada de teorias, concepções, pensamentos, desejos, encerrando as pessoas em um túmulo de condicionamentos, compulsões e desejos onipotentes. Em vez de ser livre e solta, a mente impede os processos do viver, perdendo a vastidão do universo e de novos vértices de leitura da realidade”, afirma a idealizadora do evento.

Alguns estudos publicados apontam que a meditação altera as ondas cerebrais; aumenta a nossa capacidade de concentração; pode combater níveis mais leves de ansiedade; é um antídoto contra o envelhecimento cognitivo; aumenta a massa cinzenta relacionada à atenção e ao raciocínio.

Outro trabalho é da neurocientista da Escola de Medicina de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, Sara Lazar, que procurou explorar os benefícios da meditação e da atenção plena por meio de exames cerebrais. No estudo, foi comprovado que o cérebro de novos meditadores engrossou após oito semanas nas áreas que atendem à autorregulância, aprendizagem, cognição, memória, regulação emocional, adotando perspectivas, empatia, compaixão e a produção de neurotransmissores reguladores.

Símbolos

O símbolo do zen-budismo é chamado “ensô”, que em japonês significa “círculo” ou “forma circular”. “No interior do círculo há somente o nada, servindo como analogia ao pensamento budista, que considera a realidade transitória, tendo apenas o nada como base”, comenta o mestre em filosofia Diogo César Porto da Silva.

A partir daí, ele desenvolverá sua fala na palestra “As possibilidades do nada para o não nascido. “Irei mostrar quais possibilidades haveria para a filosofia ocidental, que busca fundamentos últimos e sólidos para a realidade, em considerar o nada, tal qual ele surge na filosofia japonesa”.

Para traçar o elo entre psicanálise e meditação, Kathy Havens, psicanalista e monja missionária do budismo japonês, ordenada como Isshin, recorre ao círculo zen, também conhecido como “ensô”, figura cheia de simbolismos.

Estudos

“A partir de estudos sobre a espessura do córtex cerebral de praticantes e não praticantes de meditação, há evidências de que a prática meditativa pode modificar não apenas a função cerebral, mas também a sua estrutura”, comenta a neurocientista e pós-doutora em psicobiologia Elisa Kozasa, que abordará o tema “Cérebro, meditação e equilíbrio emocional”.

Como neurocientista, Elisa tem interesse em compreender quais os efeitos da meditação no cérebro. “Essa prática milenar tem origem em diferentes tradições, mas, atualmente, ela vem sendo trazida para o contexto da saúde para promoção e coadjuvante no tratamento de doenças, inclusive transtornos mentais”, comenta a médica.

Participaram do evento cerca de 60 profissionais que trabalham nas áreas de psicologia, psicanálise e meditação para ouvir sobre “A Capacidade Negativa e a Sensorialidade da Mente”, com Maria Bernadette Biaggi, Psicóloga/Psicanalista e Monja (Ken Zen) da Tradição Sotoshu de Zen Budismo; “O Círculo do Zen no Divã”, Katty Havens – Monja Isshin, Psicanalista e Monja Missionária Internacional do Zen Budismo do Japão; “As Possibilidades do Nada para o Não-Nascido”, com Diogo César Porto da Silva, Mestre em Filosofia Oriental; “Aplicando o Reducionismo para explicar a Neurociência por trás da Meditação”, com Frederico Garcia, Psiquiatra; e “Cérebro, Meditação e Equilíbrio Emocional”, com Elisa Harumi Kozasa, Neurocientista. (Com informações do Jornal O Tempo/5-Time EMMY® Award Winning writer, um intuitivo-empata, autor do Guia de Campo para Personalidades Humanas)

Então, vamos meditar? 

  • Coloque uma música calma ou mantra de sua preferência. Se preferir, apenas fique em silêncio.
  • Sente-se no chão sobre uma almofada com as pernas cruzadas ou na cadeira com os pés apoiados no chão. O importante é estar confortável.
  • Procure manter a coluna ereta e os ombros, braços e músculos da face relaxados.
  • Mantenha os olhos fechados.
  • Traga sua atenção para o momento presente, percebendo seu corpo, seu espaço, sua presença.
  • Tome consciência da sua própria respiração, sem julgamento, apenas observando o seu ritmo, intensidade e os movimentos respiratórios em seu corpo.
  • Perceba quando a mente se distrai e, gentilmente, traga-a de volta para o seu objeto de atenção: a sua respiração.
  • Comece a interferir na sua respiração, buscando deixá-la mais ampla e profunda. Sem esforço, inspire profundamente e expire lentamente.
  • A expiração é um pouco mais lenta que a inspiração. Conforme o ar sai, imagine que junto saem as tensões acumuladas, distrações e preocupações.
  • Procure manter o seu interesse e foco apenas nisso por 2 minutos a 5 minutos (você pode ir aumentando esse tempo conforme pratica e sente estar mais fácil e agradável).
  • Depois, vá deixando a respiração voltar ao seu ritmo natural. Perceba o seu corpo, o ambiente e vá fazendo movimentos suaves, primeiro com os dedos das mãos, com os pés…
  • Dê uma boa espreguiçada; faça as respiração alternadas; e seja feliz!

 

 

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