Ele tem o sotaque característico dos baianos, é médico por devoção e se especializou na realização de sonhos de milhares de casais ao se apaixonar pelas técnicas de fertilização in vitro durante mestrado na Espanha. O especialista em reprodução humana Marcos Sampaio, é formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia (1987), obteve diploma em Fertilização in vitro e investigação biomédica na Faculdade de Medicina de Valência, na Espanha, doutorado em ginecologia e obstetrícia na Universidade de Valência e pós-doutorado em embriologia e fertilização, na Universidade de Melbourne, na Austrália, onde trabalhou com um dos pioneiros da Fertilização in vitro no mundo, o professor Alan Trounson. Nos seus 30 anos de dedicação à medicina, foi médico convidado do Instituto Valenciano de Infertilidade, tem mais de 50 artigos científicos publicados, capítulos de livros, além de três obras, entre elas, o “Guia de bolso de técnicas de reprodução assistida” e no seu currículo casos bem-sucedidos de fertilização in vitro em sua clínica em Belo Horizonte.

De onde surgiu o desejo pela reprodução humana?
Quando me formei, queria fazer a residência na Espanha. Quando fui estudar na Universidade de Valença, estava chegando um professor que me acolheu e fui me interessando pela área. Comecei a estudar muito, profundamente. E, quando começamos a estudar muito, dá mais curiosidade, porque você começa a ver que não sabe e uma coisa puxa outra… E fui vendo que era interessante. Eu tinha 24 anos e percebi que não queria fazer outra especialidade.

Na época, já era desenvolvida essa área de fertilização in vitro?
Na verdade, era bem mais artesanal. Por exemplo: o meio de cultura que você utiliza para fazer uma fertilização in vitro, você não comprava pronto, mas fazia. As agulhas para trabalhar em laboratório, praticamente todo o material, era artesanal e dependia de habilidade manual. Hoje, qualquer coisa que você precisa para fertilização in vitro, você compra pronto.

Hoje há meios computadorizados?
Sim, hoje tem mecânica, robotizada, há coisas por câmara de velocidade. Você tem várias outras tecnologias que foram agregadas com o passar dos anos.

A clínica oferece vários tratamentos. E quanto ao congelamento de óvulos?
Isso é uma coisa que tem cada vez mais crescido. É extremamente importante que as mulheres tenham noção sobre isso. O congelamento de óvulos melhorou muito. Antigamente, o resultado era muito ruim. Depois de estabelecido o congelamento de óvulos, passou a ser essencial. Gosto de brincar que, do ponto de vista biológico, Deus é homem. Porque a mulher, até os 35 anos, tem 20% de taxa de gravidez ao mês. E, se ela engravidar, tem 20% de chance de abortar. Aos 40 anos, ela tem 4% de chance de engravidar. E de 30% a 40% de chance de abortar. Se você quiser ficar mais velha, eu te ensino mil formas. Mas ninguém ensina a fórmula da juventude. Quando alguém fala: não, meu ovário é como se eu tivesse 25 anos. Isso não existe. O ovário de 25 anos é de 25 anos. E o ovário de 40 anos é de 40 anos. Então, preservar o óvulo é muito importante, porque você pode jogar fora, se não usar; pode doar. Não está fazendo nada de mal. Além disso, o estímulo à ovulação, para congelar o óvulo, não tem risco à saúde da mulher. A mulher, para ovular um óvulo, gasta um número muito grande de óvulos. Quando você estimula a ovulação, está resgatando esses óvulos que seriam jogados fora. Não tem perigo. É como se pegasse uma fruta e adubasse naquele ciclo, ela dará mais e, depois, voltará a produzir normalmente. Não vai gastar nada. É por isso, que, baseado na lógica de que não é um óvulo que a mulher ovula por mês, por isso que a mulher que tem 10 filhos tem a menopausa na mesma idade da mulher que não teve filho. Teoricamente teria que ser diferente. Não tem nada a ver.

O que acontece quando a mulher chega aqui?
A gente vai adubar o ovário dela, estimulá-lo, para resgatar uma parte do que ela já perderia. Pode congelar um ciclo, dois, dez… Quantos achar interessante. O número de óvulos que achar interessante. No caso do congelamento, a taxa de gravidez é de 40%. É como se falasse assim, cidade, pode ser Belo Horizonte, Nova Iorque, e cada uma tem a sua característica. Então, cada paciente tem a sua característica. Há pacientes com 2% de gravidez. Outras com 60%. Depende muito da idade, de quantos embriões serão transferidos, da qualidade do ciclo que ela fez. Juntamente, a média de uma paciente que fez fertilização in vitro, até 26 anos, e aquela que faça com 42, deu uma média de 40%. Há casos que são muitos melhores e casos que são piores.

E quanto à fertilização, está crescendo a procura?
A demanda nunca vai parar de crescer. Há um inglês que faz o cálculo, ele acredita que daqui a 15 anos, a maioria das pessoas vai escolher fazer a fertilização in vitro; para quem puder, claro. A Inglaterra é um país futurista, com outra cultura, mas ele fala que, daqui a 15 anos, a maioria das pessoas vai optar por fazer a fertilização in vitro, porque você tem tecnologias chegando que te darão certas garantias importantes. Por exemplo: a pessoa tem histórico familiar de câncer de mama, vai poder selecionar um embrião que não tenha câncer de mama. Vai depender como a ética vai reagir em cada país. Tem tecnologia que você poderá corrigir defeitos do embrião, para que você tenha um embrião sadio, evitando doenças mais graves. Tem coisas na fertilização in vitro, porque a terapia genética, a terapia gênica, está aí para ficar. Têm todos os seus dilemas, pontos de vista éticos para lá e para cá, mas, hoje, o maior freio dela é preço. E o preço da genética é sempre assim, cada vez menor. Lembro que um teste de paternidade custava entre $ 5 e $6 mil dólares. Hoje, são R$ 100,00. Acontecerá a mesma coisa com essas técnicas genéticas. A tendência é torna-se mais acessível e as pessoas que tiverem o risco aumentado vão fazer. Aí, vai depender de como cada país cuida da sua legislação. Em um país inglês, que é mais liberal, as pessoas vão buscar a fertilização in vitro para evitar certas doenças.

Qual o perfil das mulheres que procuram a clínica, idade, infertilidade ou doença?
Tem de tudo aqui. O percentual por mês ainda é muito pequeno. A grande maioria é por tempo de infertilidade ou idade da mulher. São os dois principais. E os homens, são, sempre, por diminuição da qualidade do sêmen ou vasectomia. Acredito que esteja crescendo a procura. A cada geração que vai passando, as pessoas trabalham em uma velocidade muito maior. Antigamente, as pessoas chegavam à casa entre 17h30 e 18 horas. Hoje, os casamentos também são mais tarde e, também, mais rápidos. A pessoa convive menos tempo antes de casar, cada um cobra mais do outro. Quando se separam, as pessoas são mais práticas, podem fazer outras experiências, pois não há nada de errado nisso. Está acontecendo muito isso e as pessoas ainda estão em idade reprodutiva.

Na fertilização, ainda existe a chance de virem gêmeos?
Sempre há a possibilidade. Agora, com o controle do número de embriões a serem transferidos, temos entre 5% e 6% de gêmeos e uma chance, em mil, de trigêmeos. Quadrigêmeos nem sei qual é a chance, de tão raro que é. Estamos falando de 90% a 95% de gravidez única.

E quanto às correções no embrião?
Você, normalmente, corrige. Há pessoas que não tem jeito, claro, o óvulo é incompetente; o óvulo tem uma doença mitocondrial. Há situações em que não há solução e essa pessoa precisa de um gameta doado. Isso vem crescendo cada vez mais, que é a ovo-doação. A pessoa chega aqui aos 46 anos e o óvulo dela não dá mais. Então, ovo-doação é um procedimento que tem crescido. A mulher não ser mãe é muito difícil, mas às vezes ela precisa “abrir mão” da genética dela. A fertilização precisa de três coisas: um útero, um óvulo e um espermatozoide. Das três, tem duas: o marido, a gravidez, o vínculo materno, que é a gestação. Para isso, tem que esgotar a história com os óvulos da mulher.

Conteúdo produzido por Ana Luísa Marçal para o Portal Raio-X do Doutor em 2016.

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