As crianças estudam na escola que a pele é o maior órgão do corpo humano, corresponde a 16% do peso corporal e exerce funções, como: regulação térmica, defesa orgânica, controle do fluxo sanguíneo, proteção contra agentes do meio ambiente e funções sensoriais (calor, frio, pressão, dor e tato). No entanto, esse gigante nem sempre é tratado com respeito. Evitar a automedicação, procurar um especialista quando uma lesão persistir por vários dias, sem regredir, e se expor ao sol com cuidado são algumas dicas da dermatologista Ana Cláudia de Brito Soares em entrevista especial ao RXDR, em 2016. Eleita presidente da Sociedade Mineira de Dermatologia para a gestão 2017-2018, a médica é formada em Medicina, pelas Ciências Médicas (1988); especialista em dermatologia, pela Santa Casa de Belo Horizonte (1990); e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia desde 1991.

Quais são as principais queixas ou demandas das pessoas quando chegam ao seu consultório?Depende muito da faixa etária. No caso dos mais jovens, acne é uma queixa muito frequente. Nos adultos, a prevenção do envelhecimento e do câncer do pele, queda de cabelo e alterações nas unhas.

O que causa a queda de cabelo? Imagino que seja uma soma de fatores…
A queda acentuada de cabelo pode ser sinal de várias doenças, inclusive as sistêmicas, como anemia, alterações da tireóide e doenças como lúpus eritematoso. E pode também ser resultado de danos da haste do cabelo por excesso de uso de produtos químicos. Então, você tem, desde causas internas até procedimentos estéticos que podem levar à queda do cabelo. E ainda há a possibilidade de outras doenças, como alopécia areata, alopécia frontal fibrosante. As pessoas precisam saber que a queda de cabelo pode refletir desde uma deficiência de nutrientes como o ferro, passando por doenças auto-imunes do couro cabeludo até procedimentos estéticos. Isso não é uma questão para ser respondida pelo cabeleireiro. Por que o meu cabelo está caindo? Essa é uma dúvida para ser perguntada ao dermatologista, porque será preciso uma avaliação criteriosa, às vezes, com pedido de exames complementares e até biopsia do couro cabeludo. A queda de cabelo pode ser a ponta de um iceberg. A pessoa não pode desvalorizar essa alteração.

Então, é preciso observar o que é queda de cabelo…
É. Todo mundo pergunta: queda de até 100 fios de cabelo por dia é normal? Depende. Em uma pessoa que tem pouco cabelo pode ser anormal. Quando você lava ou penteia o cabelo, sabe o que é normal cair e quando está caindo demais. Se a quantidade de fios que cair, sair do seu padrão, é hora de procurar ajuda. Há mulheres que dizem: eu tenho a metade do cabelo que tinha antes. Está errado. Isso deve ser avaliado pelo dermatologista.

Isso quer dizer que a queda não se acentua com o envelhecimento?
Com o envelhecimento a gente perde cabelo. Mas uma mulher de 30 ou 40 anos falar que já perdeu quase a metade dos fios que tinha na adolescência, deveria ser avaliada. Na dúvida, procure sempre o dermatologista.

Em relação às doenças de pele, existem algumas dicas importantes, como cuidados com a alimentação?
A alimentação saudável e hábitos de vida saudáveis (não fumar, não consumir bebida alcoólica em excesso, praticar esporte) são bons para a pele e para qualquer outro órgão do corpo humano. Então, é óbvio que a pele se beneficiará disso. Se você tomar sol demais, terá o envelhecimento precoce da pele e risco maior para câncer (de pele), principalmente se tiver a pele clara; fumar demais, também parece contribuir para o envelhecimento precoce da pele; se tiver uma dieta rica em carboidratos, de alta carga glicêmica, poderá ter uma acne mais inflamatória. Então, acho que a alimentação saudável, prática de atividade física, dormir bem, são mandamentos básicos para uma vida saudável, em todos os sentidos, e a pele não foge à regra.

Mesmo para os jovens, com toda aquela explosão hormonal?
Sim, mesmo para os jovens. Os efeitos do sol sobre a pele se iniciam desde a infância e são cumulativos. Uma alimentação muito rica em carboidratos pode estar relacionada a um quadro de acne mais inflamatória, como já dissemos, e com a obesidade.

É importante observar o que come, o que entra no organismo…
Exatamente. A qualidade do que você come, é o mais importante, pois, hoje, as refeições fáceis, rápidas, são muito atrativas. O que vemos, atualmente, é a pessoa tomando aquele tanto de suplementos alimentares em cápsulas e aí tem pouco tempo para almoçar e compra uma coxinha. É contraditório. Então, faça um esforço, prepare com antecedência seu cardápio, coloque naquelas bolsas térmicas e leve para o trabalho.

Doutora, e quanto às manchas na pele, quando a pessoa deve ter preocupação com elas?
As manchas também devem ser olhadas com muito cuidado. Há manchas que trazem perturbações apenas estéticas como os melasmas; mas temos pequeninas manchas escuras, pintas, que podem ser um melanoma, que é um câncer da pele. As manchas claras podem ter como diagnóstico o vitiligo, uma micose ou uma reação após alguma irritação da pele. As pessoas não devem pensar que no caso das lesões da pele basta passar uma pomada e logo o problema estará resolvido. O diagnóstico das doenças dermatológicas é importante. As lesões de pele se parecem muito, mas os diagnósticos e os tratamentos são muito diferentes. O diagnóstico de doença de pele é difícil, mesmo para um médico que não é especialista, mas é necessário para o tratamento adequado e eficaz.

E a grande discussão do momento: onde está o limiar entre a exposição ao sol, por falta de vitamina, e a não exposição para evitar câncer de pele?
Onde está o ponto de equilíbrio? Não há como conceber uma pessoa clara, com histórico familiar de câncer de pele, se expor ao sol sem proteção por causa de vitamina D. A chance de ela desenvolver o câncer de pele é real. Se ela não estiver com a dosagem adequada de vitamina D, deverá tomar o suplemento dessa vitamina. Por outro lado, não há necessidade absoluta de uma pessoa com a pele morena passar filtro solar em todas as partes expostas do corpo, para se deslocar, de carro, de casa ao trabalho. Existe uma coisa que se chama bom senso e que deve orientar a vida da gente. Então, as pessoas que se bronzeiam facilmente, não têm nenhuma doença de pele que seja agravada ou desencadeada pela luz solar, devem obrigatoriamente usar o filtro solar e adotar outras medidas para se proteger do sol na praia, no clube durante a prática de esportes ou em um churrasco ao ar livre. Agora, se a pessoa for loira, de pele clara, com sardas, tiver histórico pessoal ou familiar de câncer da pele, deveria usar o filtro solar, diariamente, não apenas em situações de lazer. Aí a pessoa pensa: minha vitamina D vai baixar. Se for detectado por exame de sangue a baixa da vitamina D, o recomendado é fazer a reposição. Os europeus e os americanos fazem isso. Devemos nos lembrar que muitos de nós adotamos o estilo norte-americano de viver. A gente trabalha em escritórios, o nosso lazer é dentro de shopping centers e nos deslocamos de carro para todo lugar. Então, apesar de vivermos em um país tropical, podemos ter a dosagem da vitamina D abaixo dos níveis recomendados. Mas é importante sempre que a reposição da vitamina D seja feita sob supervisão médica. O excesso de vitamina D também é prejudicial para a saúde.

Mas e o sol da manhã a gente pode tomar?
Pode, observando os cuidados de fotoproteção já mencionados. Sabemos que mais de 90% da vitamina D é obtida por meio da produção endógena, iniciada na pele e com a participação da radiação solar. Sabemos, também, que o uso adequado de filtro solar reduz de forma significativa a quantidade de radiação ultravioleta B que atinge a pele, podendo interferir, teoricamente, na produção de vitamina D. Mas por outro lado, em um País como o nosso, a exposição não intencional ao ambiente externo pelo tempo de dez minutos diários, somente de mãos e face, seria suficiente para a produção adequada de vitamina D. Também temos que considerar que, na prática, o protetor solar não é aplicado na quantidade, na frequência e na regularidade recomendados, o que permite que radiação ultravioleta B suficiente atinja a pele para a produção de vitamina D. Assim, seguindo o consenso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, o uso de filtro solar não pode ser considerado fator predisponente ao desenvolvimento de deficiência de vitamina D.

Conteúdo produzido por Ana Luísa Marçal para o Portal Raio-X do Doutor.

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