Fala-se muito nos últimos tempos do perigo das notícias falsas (fake news) circulando livremente pela internet. Mas, há uma questão de mudança de cultura muito mais grave nos tempos das relações virtuais: a impaciência. Esse é o verdadeiro perigo dos anos 2000, que contamina ambientes, fragiliza relações e transforma o mercado de trabalho em verdadeiro palco para as indelicadezas.

Na faculdade, fiz as matérias de redação jornalística usando máquinas de escrever. O conteúdo utilizado era fruto de entrevistas e pesquisas em livros. Hoje, a pessoa entra na internet, encontra tudo pronto, e sai divulgando, sem checar.

A cultura do “fast food” quer tudo pronto. Não sabe o que é esperar uma semana para receber notícias pelos Correios. Não entendem o significado de pesquisar. Acham-se no direito de falar mal de pessoas no ambiente de trabalho quando não concordam com suas opiniões. Desafiam chefes. Sentem-se os donos da verdade.

Nesse meio as notícias falsas são apenas consequências da impaciência em não querer perder tempo com pesquisas, na preguiça de observar as situações antes de reagir.

Certa vez, ouvi uma pessoa dizer que só erra quem trabalha. Achei fantástica a frase. Afinal, todos nós erramos no dia a dia, mas, sempre, tentando acertar. O perigo da geração da instantaneidade é que os erros são mais graves. Erram por não querer aprender com os mais experientes. Esse, para mim, é o mais grave dos equívocos.

Quando me formei, eu simplesmente grudava nos mais experientes, queria aprender com eles. Hoje, vejo os mais novos confrontando com tudo o que digo, salvo algumas exceções, pois ainda há pessoas ávidas por conhecimento. Eles se exaltam, respondem rispidamente, são grosseiros. Não querem compartilhar conhecimento, pois já nasceram sabendo tudo. Eu não. Acordo todos os dias querendo aprender.

A mesma situação acontece no campo da espiritualidade. Participo de um grupo que estuda o assunto há 16 anos. Juntos, já fizemos mais de mil atendimentos, além das pessoas que trabalhamos em escritório/consultório, separadamente. E há algo em comum em todos nós: queremos estudar mais, fazer muitos cursos, conhecer, aprender, compartilhar conhecimentos.

Já os protótipos da modernidade nasceram sábios. Querem fazer cursos de final de semana e saírem por aí atendendo pacientes. Lamento muito, por todos: por esses terapeutas “fast foods” e, principalmente, pelos seus pacientes.

Mas tenho fé. Um dia isso vai mudar. As pessoas vão entender que a internet é a grande casa de verdades e, também, das notícias falsas; que entrevistar uma pessoa “ao vivo” é muito mais rico; que espiritualidade requer estudo e muita prática; e que a vida é muito curta para sair por aí distribuindo impaciências. Sejamos doces, gentis e calmos. E o mundo ao nosso redor, com certeza, será muito mais interessante.

Foto: Pixabay. Postado por Ana Luísa (www.fazcomsal.com.br).

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