Prevenção, cuidados, planejamento são as palavras mais importantes quando o assunto é cuidado com a saúde da mulher. O alerta é do médico ginecologista Agnaldo Lopes Silva Filho, ginecologista, especialista em cirurgia pélvica feminina, e presidente da Sociedade Mineira de Ginecologia. Em seu consultório, por onde passam mulheres, de diferentes idades, acontecem curas e tratamentos complexos. Para evitar esses problemas, a dica do especialista é a prevenção. Em entrevista exclusiva ao RXDR, em 2016, o ginecologia falou sobre os principais cuidados e “As cinco top atitudes da mulher para a promoção da saúde.”.

Dr. Agnaldo, além da prevenção, que é primordial, quais são as orientações para as mulheres se cuidarem?
No segundo semestre de 2016, a Sogimig lançou a campanha “As cinco top atitudes da mulher para a promoção da saúde”. O que a mulher precisa para ela envelhecer bem. Há cinco aspectos:
1)Estilo de Vida.
2)Rastreamento de câncer.
3)Imunização, vacinação.
4)A quarta questão que eu acho importante em relação à saúde da mulher, é prevenção contra doença sexualmente transmissível.
5) E a quinta coisa, que acho interessante, é que a mulher faça o seu planejamento reprodutivo, por dois aspectos: evitar gravidez não planejada e ter a quantidade de filhos que planejou.

Quais são as orientações quanto ao estilo de vida adequado a uma mulher?
Ter uma vida saudável, evitar o tabagismo, sedentarismo, manter dieta saudável, condições de vida saudável. Isso tem a ver com redução de doença cardiovascular. A maior causa de mortalidade materna é por doença cardiovascular. A mulher deve se cuidar de uma forma em geral.

Quanto ao rastreamento do câncer, além do papanicolau, quais são os exames indicados?
O ginecologista, em grande parte das vezes, é o único médico que a mulher procura para fazer controle e assume um papel que extrapola a questão genital. Ele é responsável pela saúde daquela mulher. O papel do ginecologista é prevenção de câncer de colo uterino, que é um grande problema de saúde pública mundial. São 17 mil novos casos por ano; 17 mil mortes por câncer de colo uterino. O padrão, do ponto de vista de rastreamento é fazer o papanicolau. Mulheres, de 25 a 65 anos, devem fazer o papanicolau com certa rotina. A recomendação do Ministério da Saúde é a de que, nessa faixa etária, depois de dois exames consecutivos, o exame pode ser feito de três em três anos. A outra questão é em relação ao câncer de mama, que é o de maior prevalência em mulheres em todo o mundo. O rastreamento é feito com a mamografia. Deve-se pensar se faz essa mamografia aos 40 ou 50 anos. Em princípio, a partir dos 40 anos. Outro tumor importante em relação à mulher, mas fora da área ginecológica, é o câncer de colo retal, no intestino. Mesmo para a população de baixo risco, é recomendado o rastreamento a partir dos 50 anos, por colonoscopia ou pesquisa de sangue nas fezes. Quando eu falo em rastreamento é para a mulher sem nenhum sintoma, sem nenhuma alteração em exame clínico. Se ela tiver sangramento pós-menopausa, apalpa e tem nódulo mamário, sangramento intestinal, deve procurar um médico para pedir exames complementares.

A terceira atitude é quanto à imunização. Quais são as principais orientações?
Esse é um padrão dos pediatras, não se admite consulta pediátrica sem cartão de vacina, e espera-se que, no futuro, isso também ocorra com o ginecologista. Há vacinas com implicação grande à saúde da mulher, como: vacina contra rubéola, para evitar problemas durante a gravidez, contra H1N1, contra pertussis, hepatite A e B, e, hoje, uma questão extremamente importante, a vacina contra o HPV. O câncer de colo é um grande problema de saúde pública no Brasil e uma das medidas de prevenção é a vacinação da mulher. Temos duas vacinas disponíveis no mercado – uma vacina para dois subtipos de HPV e, outra, para quatro tipos. O programa nacional de imunização tem vacinas para quatro subtipos, quadrivalente, para meninas de 9 a 13 anos de idade. Essa vacina é aprovada e deve-se recomendar a homens de 9 a 26 anos e para mulheres de 9 a 45 anos, no Brasil. Esse é o padrão. Em países da Europa já caiu o limite de idade. Estamos fazendo 10 anos da vacina contra o HPV. A gente sabe que é extremamente eficaz e tem um perfil de segurança muito aceitável. Isso é sempre avaliado. A vacina é extremamente segura e deve ser recomendada nessas faixas etárias que comentei. Mesmo as mulheres vacinadas precisam fazer a prevenção contra o câncer no colo uterino fazendo o papanicolau.

E quanto à prevenção contra doença sexualmente transmissível?
Essa é a quarta questão que eu acho importante, em relação à saúde da mulher, a prevenção contra doença sexualmente transmissível. O HPV é uma delas. Outra questão que vem aumentando é o HIV. Quando começou, na década de 1980, se associava o diagnóstico de HIV como sentença de morte. Víamos, o tempo todo na televisão, figuras públicas morrendo por Aids. Hoje, isso é menos comum. Mas, a gente não pode se esquecer de que está aumentando a prevalência de HIV, em vários segmentos da população, e não existe cura. A melhor medida ainda é a prevenção. De certa forma, poderemos imaginar que está havendo um descuido em relação a isso. Uma falsa sensação de segurança, e a população usando, de forma geral, menos preservativo. Outra questão é a sífilis. Parecia erradicado e estão aumentando os índices congênitos, de forma geral, e tem a ver até com assistência pré-natal adequada das gestantes. Outra questão, que no Brasil valoriza-se pouco, é o rastreamento de clamídia. De forma geral, pode estar associada a questões pélvicas e à infertilidade. No Brasil, não há um padrão para avaliar tudo isso. Uma mulher, para chegar saudável a uma faixa etária avançada, tem que se cuidar em relação a isso.

A quinta é última atitude é em relação ao planejamento reprodutivo. Qual a importância desse planejamento?
O planejamento reprodutivo é importante por dois aspectos: evitar gravidez não planejada e ter a quantidade de filhos que planejou. Hoje, 50% do índice de gravidez no mundo são não planejadas. E 50% dessas terminam em abortamento. Oferecemos à mulher métodos contraceptivos eficazes e se ela mantiver o uso, pode mudar uma realidade. O que tem sido proposto às mulheres é usar o Larc (contraceptivo reversível de longa duração), a contracepção intra-uterina (Diu medicado e não medicado) e os implantes, com possibilidade de oferecer contracepção de três e a dez anos, muito eficaz e que vai diminuir a incidência de gravidez não planejada. O desafio é evitar mitos em relação à utilização de Diu. Pacientes que nunca tiveram filhos são candidatas a Diu. Não há contraindicações. A gente sabe que Diu não está associado a infertilidade. Hoje, a mulher ocupa uma posição muito importante na sociedade. O que tem ocorrido é o adiamento da primeira gravidez. E, com o tempo, há diminuição da taxa de fecundidade e há alguns pontos de corte. Aos 35, 38 e 42 anos cai bastante. A sociedade de reprodução dos Estados Unidos recomenda que a mulher que queira ter mais de dois filhos tenha o primeiro antes dos 30 anos de idade. É importante que a mulher se preocupe com essa questão. Às vezes ela prioriza várias questões – profissional, educação, financeiro, encontrar o parceiro –, e se esquece que o tempo vai passando. Infelizmente, a mulher ocupa muita coisa e ela avançou bastante mas, do ponto de vista da fisiologia, o ovário é o mesmo.

Outra dúvida comum das mulheres é quanto à eficácia dos métodos contraceptivos. O que pode cortar o efeito da pílula?
A pílula anticoncepcional completou 50 anos e poderemos considerar como um dos grandes avanços da medicina. A mulher ocupa essa posição de destaque na sociedade e é a primeira vez que ela define o método contraceptivo e se quer ou não ter filhos e quando engravidar. A pílula é extremamente eficaz, mas tem um problema: desde que utilizada de forma correta. A eficácia de uso ideal é diferente da eficácia de uso típico. Se esquece, toma de forma inadequada, isso pode interferir na eficácia da pílula. Além disso, alguns medicamentos, antibióticos, anticonvulsivantes, antidepressivos, podem interferir na questão metabólica da pílula anticoncepcional. A pílula traz benefícios que extrapolam a questão de só não engravidar. Pode ser utilizada em benefício de melhorar a tensão pré-menstrual, acne, excesso de pelo, sangramento uterino irregular e pode regularizar o ciclo menstrual.

Como funciona, nesses casos estéticos, para diminuir pelo e acne?
Há algumas pílulas combinadas que atuam na circulação dos hormônios masculinos daquela mulher e, com isso, diminui acne e pelo.

Há algum outro método de contracepção mais moderno?
Existem algumas tendências de contracepção hormonal. Na pílula, diminuindo, cada vez mais, o intervalo livre de hormônios. Antes, a mulher tomava por 21 dias e ficava sete sem tomar. Agora, há pílulas que são de 24 dias e quatro sem tomar. Outras, com 26 comprimidos ativos e dois sem tomar. Ou mesmo a questão de emendar cartela. Além dos avanços da pílula, com benefícios não contraceptivos. Em relação a utilizar dosagens hormonais menores, a pílula reduz os efeitos colaterais e riscos, como a trombose. A paciente tem que conhecer todos os métodos, saber das vantagens e desvantagens, sempre pensando na dupla proteção, com a utilização de preservativo. É importante adequar o método àquela paciente.

E quanto aos cuidados com a “pílula do dia seguinte”?
O próprio nome já fala: pílula do dia seguinte ou contracepção de emergência. Se a mulher, nos últimos três meses, tomou a contracepção de emergência três vezes, está errado. Deve ser algo eventual. Essa paciente precisaria de um método contraceptivo eficaz, que não precisa de emergência. Mas é extremamente interessante em algumas situações: incidentes, relações desprotegidas. A eficácia é menor que com os métodos usuais e deve ser utilizada nas primeiras 72 horas após a relação sexual. As dosagens hormonais são maiores e têm efeitos colaterais maiores.

Como a mulher pode perceber o corpo e procurar o ginecologia, com maior agilidade, sem aguardar um sintoma que indique algo mais grave?
A mulher deve estar sempre atenta aos sintomas e fazer as consultas de rotina. E qualquer alteração – sangramentos regulares, atrasos menstruais, alterações de mais pelo, mais acne, tem que procurar o ginecologista.

O que é considerado atraso menstrual?
O padrão das mulheres com o ciclo menstrual de 28 dias é de três a cinco dias de atraso. Para uma mulher que tem mais irregularidade, pode ser fisiológico. Os extremos de vida reprodutiva, próximo à primeira e à última menstruação, pode causar sangramento ou atrasos. O ideal é que a mulher menstrue todo mês e o volume tem a ver com o método que utiliza. O mais preocupante é aquela mulher que sangra muito. Isso pode interferir na qualidade de vida da mulher: relação com parceiro, jeito de se vestir…

Quando a menina precisa ir ao ginecologista pela primeira vez?
Antes da primeira menstruação, é interessante uma consulta com o ginecologista para saber como é a puberdade e sobre a espera da primeira menstruação.

Conteúdo produzido por Ana Luísa Marçal para o Portal Raio-X do Doutor. Foto: Leo Lara/Divulgação.

Deixe uma resposta

Fechar Menu